sábado, 17 de janeiro de 2009

O sabor da ternura

Há uma senhora com quem tenho convivido no meu dia-a-dia dos últimos meses que é muito especial. E é também uma cozinheira de se lhe tirar o chapéu. Aos seus oitenta e um anos, levanta-se bem cedo para passar horas e horas a preparar-nos cada refeição, com muito cuidado, apuradamente. Depois, já à mesa, sorri quando a refeição é elogiada - que é o mesmo que dizer que sorri a todas as refeições, feitas de cozinhados mesmo deliciosos, de ficar com água na boca. E gosta tanto de cozinhar que muitas vezes a comida é mais do que a necessária e acaba por sobrar. Ou, melhor dizendo, acaba por "crescer". É assim que lá se diz, em Castelo Branco, de onde vem. "Pois, então... as batatas cresceram... Está certo. Então não é?!".

Estando em Castelo Branco, a Dona Feliciana dá sempre um pouquinho das suas delícias aos vizinhos, que seguramente até estranham quando vem embora para cá, "para o Porto". Mas se cá não tem esses vizinhos, tem uns clientes muito especiais, pelo menos no Verão: há bem pouco tempo, todas as manhãs partia pães aos bocadinhos pequeninos, e porquê? "É para dar aos meus amigos". E assim, todas as manhãs de Verão, muitos passarinhos se alimentavam de ternura. :)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

De como encontrei pequenezas com o tamanho do mundo

Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
- um outro coração.

Conselho do avô

(lido em Mia Couto, A Chuva Pasmada)



Quero saltar para a água
para cair no céu.

Pablo Neruda, Crepusculário

(lido em Mia Couto, A Chuva Pasmada)



Make love

(lido num restaurante chinês)

No palco, belezas

Vejam "Os Saltimbancos", musical aprimorado por Chico Buarque, no Teatro do Campo Alegre!!! Singelo, humano e mesmo comovente!

Orgulho gigante numa lua partida ao meio... Obrigado!

Origens reveladas

O subtítulo deste blog é uma homenagem a uma personalidade muito especial. E o título também, assim me diz uma reflexão mais atenta.

Trata-se de um dos meus poetas preferidos. Há quem lhe chame letrista. Há quem lhe chame compositor. Há quem diga que é um óptimo letrista, e um bom compositor, o que deixava Vinícius de Moraes danado: o "poetinha" frisou bem que Chico Buarque brilha em ambas as tarefas. Para mim, as letras de Chico Buarque são, inúmeras vezes, poesia. Da mais engenhosa, subtil e profundamente deslumbrante que conheço. Ouçam e conheçam!


AS VITRINES

Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
-Dá tua mão
-Olha pra mim
-Não faz assim
-Não vai lá não

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar

Na galeria
Cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão


(no álbum "Almanaque", de 1981)

Apresentação

Olá!

Nasceu este espacinho, onde ficarão algumas coisas que me povoam o brilho dos olhos no momento em que cá as deixo. Espelhos de palavras, de sons, de imagens.

(com gratidão a Damasco e Esparguete por me terem inspirado este espaço, de mansinho)