sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Origens reveladas

O subtítulo deste blog é uma homenagem a uma personalidade muito especial. E o título também, assim me diz uma reflexão mais atenta.

Trata-se de um dos meus poetas preferidos. Há quem lhe chame letrista. Há quem lhe chame compositor. Há quem diga que é um óptimo letrista, e um bom compositor, o que deixava Vinícius de Moraes danado: o "poetinha" frisou bem que Chico Buarque brilha em ambas as tarefas. Para mim, as letras de Chico Buarque são, inúmeras vezes, poesia. Da mais engenhosa, subtil e profundamente deslumbrante que conheço. Ouçam e conheçam!


AS VITRINES

Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
-Dá tua mão
-Olha pra mim
-Não faz assim
-Não vai lá não

Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar

Na galeria
Cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão


(no álbum "Almanaque", de 1981)

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